Lutar Contra o Fascismo – Uma Necessidade Histórica

Por Nonata Corrêa*


Estamos diante de uma complexa conjuntura que requer cada vez mais a unidade dos amplos setores progressistas da sociedade. O governo ultraconservador de Bolsonaro, desde que tomou posse, vem demonstrando seu interesse voltado aos bancos e ao imperialismo norte-americano, em detrimento da fome e miséria que se alastra pelo país. Nos últimos meses, uma série de escândalos que envolve a família Bolsonaro veio à tona, e em resposta, Bolsonaro e seu governo vem cada vez mais deixando claro seu caráter fascista e autoritário, de radicalização de sua base de apoio, ameaçando as instituições democráticas e desviando dinheiro público da saúde e do bolsa-família para alimentar seus sites de fake-news. Não apenas isso, Bolsonaro apoiou e impulsionou algumas manifestações de extrema-direita que aconteceram nos últimos dias, como a que aconteceu em Brasília no dia 30 de maio, organizada por uma milícia que fazia alusões ao nazismo e ao racismo, representada por grupos extremistas de todo o mundo, existentes no Brasil e que pregam a violência e a morte contra quem se opõe ao governo. O vazamento da reunião ministerial escancarou a verdadeira face dos ministros de Bolsonaro, como o ministro do Meio Ambiente que enfatizou sobre a necessidade de “passar a boiada” na aprovação de leis ambientais, como a Medida Provisória dos ruralistas, que estava sendo votada nesse mesmo período no Congresso Nacional, reafirmando o interesse desse governo em destruir a Amazônia, entregando “a preço de banana” nossa floresta, que cumpre um papel estratégico para a soberania do país, nas mãos dos ruralistas, ou o desejo do ministro Paulo Guedes, de matar os servidores públicos que estão à frente do combate a pandemia, colocando uma “granada” no bolso dos trabalhadores ao propor mais reformas para retirar mais direitos do trabalhador, a exemplo do que foi a reforma trabalhista e da previdência. Esse (des)governo, também mostra sua incompetência quando, em meio a uma crise pandêmica causada pelo Covid-19, tivemos constantes substituições de ministros da saúde, quando o próprio presidente desrespeita as orientações da OMS e estimula a população às ruas. Já são quase 40.000 mortes, e a culpa desse genocídio é de Bolsonaro.

A luta antifascista não está dissociada da luta histórica do antirracismo. No Brasil isso se reforça diante dos constantes e diretos ataque aos Povos de Comunidades de Terreiros de Matrizes Africanas. Um exemplo de preconceito, discriminação, exclusão, danos morais e injúrias manifestam-se por meio de áudio advindos do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, ao proferir palavras de baixo calão como “macumbeira” e “miserável” proferidas à Mãe Baiana de Oyá. Nos áudios divulgados pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Sérgio Camargo também chamou o movimento negro de “escória maldita”, desmoralizando a atuação histórica de Zumbi dos Palmares e Dia da Consciência Negra. Como parte da política genocida, preconceituosa e racista, Bolsonaro nada fez em relação ao caso, ao contrário, ratificou o apoio da atuação de Sérgio Camargo, reafirmando o compromisso com a moralidade cristã. Sabemos que o poder presidencialista deve cumprir o princípio da laicidade da Constituição Federal, tomar e requerer providências administrativas nos casos de racismo institucional e efetuar as medidas criminais e civis por meio da Procuradoria Geral da República, no entanto, as falas e evidências concretas de seu preconceito religioso, racismo e danos morais às populações de Terreiro marginalizam as minorias, exterminam sistematicamente e culturalmente os grupos étnicos e marcam a sua administração pública com violência e sangue

No Atlas da Violência de 2019, verificamos a continuidade do processo de aprofundamento da desigualdade racial nos indicadores de violência letal no Brasil, já apontado em outras edições. Segundo o mapa, nos últimos 10 anos não houve nenhuma queda nos números de mortos, pelo contrário, houve o aumento de 134,1%. A maioria das vítimas, são jovens negros com idades entre 15 e 29 anos. Existe um outro lado alarmante relacionado ao crime de feminicídio contra mulheres que aumentou 7,3% no Brasil, índice impulsionado pelos crimes cometidos contra mulheres negras. No Amazonas os casos de feminicídio subiram 200% entre os anos de 2018 e 2019, 134% aconteceram contra mulheres negras e pardas, segundo levantamento do Monitor da Violência.

Apesar das tentativas de invisibilização, historicamente o movimento negro está fazendo a luta antifascista e antirracista contra o racismo estrutural brasileiro, a necropolítica e o projeto de extermínio de nossos jovens negros e periféricos. As ações se dão na denúncia cotidiana das atitudes repressoras da polícia e do Estado nos movimentos culturais e negros da periferia, das mortes de crianças e jovens e das constantes invasões de terreiros de umbanda e candomblé. O manifesto antifascista também é uma resposta a essa situação de constante mortalidade juvenil negra, que se encontra em estados de vulnerabilidade racial e social. Através deste manifesto chamamos atenção da sociedade civil para a mortalidade juvenil negra. O grito de Marielle Franco ecoa ao mundo: “parem de nos matar!” e reforça o protesto popular na luta antifascista e antirracista: “nenhum passo atrás, poder para o povo preto”.

O discurso homofóbico de Bolsonaro incita cada vez mais o ódio e a violência contra a população LGBT. O Brasil é o país que mais registra crimes letais contra essa população no mundo, os dados mais atuais mostram que foram 297 homicídios e 32 suicídios, o que equivale a 1 morte a cada 23 horas.

Para derrotarmos o projeto entreguista e genocida deste governo, precisamos construir uma grande frente ampla, que possa abranger todos os patriotas que estão descontentes e que não suportam mais o desemprego, as mortes de brasileiros, o descaso com os direitos do povo, as injustiças e desigualdades que assolam o nosso país. Precisamos unir mulheres, jovens, negros e trabalhadores que ajudarão a construir essa grande nação na defesa de sua soberania, de seu povo e de suas riquezas naturais. Uma frente que seja capaz de interromper o governo fascista de Bolsonaro. Neste momento, mais do que nunca, a luta antifascista e a defesa da democracia devem ser a nossa palavra de ordem.


*Nonata Corrêa tem 66 anos, é Professora aposentada, militante do movimento negro, é Yalorixa Nagô, Dirigente do Terreiro Eira de Mina Nagô Ya Abaoô, Coordenadora do núcleo Quilombo Petista, Coordenadora da ARATRAMA-Am (Articulação das Religiões de Matriz Africana-ARATRAMA-AM), Coordendora e fundadora do Fórum de Mulheres Afro-amerindias e Caribenhas, Integrante do Fórum de mulheres de Manaus, Idealizadora e uma da Coordenação do Comitê popular pela vida.

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