Estado, Laicidade, Política e Fé

Por Makota Celinha Gonçalves*


Vivemos em nosso país, momentos tenebrosos que ameaçam a democracia e o Estado de direito, o avanço do fascismo nos impõe a necessidade de avaliarmos que país queremos e quais são as estratégias que buscaremos para de fato assegurarmos nossos direitos inalienáveis a liberdade e prática religiosa. A eleição de Jair Bolsonaro apoiada por setores conservadores da direita brasileira teve um forte apelo religioso e a participação de líderes desses segmentos. Não podemos portanto, responsabilizar os mais pobres e simples, por esta tragédia política. A vitória de Jair Bolsonaro foi construída nas cúpulas das organizações religiosas e não apenas as neopentecostais. Basta observarmos inclusive que setores de segmentos pentecostais mantém hoje cargos importantes em ministérios e segundo escalão do governo federal. A direita brasileira se organiza em vários segmentos religiosos, cristãos e não cristãos, e carregam consigo o lado antagônico do sentido de ser religioso. Pois sustentam um governo e um projeto político que não leva em consideração a vida, a cidadania e soberania popular. Ao contrário se sustentam com um forte discurso de ódio, de negação e desprezo ao outro.

A atual conjuntura política nos exige uma leitura detalhada do significado de laicidade enquanto princípio de respeito e de convivência entre os diferentes. Não podemos esquecer que a construção desse estado fascista que não respeita a democracia, a liberdade e a vida, não é um projeto que surge agora, é o projeto de vida da direita brasileira, que preparou para a retomada do poder por não aceitar a ideia de um Estado que acolha a diversidade, a pluralidade e principalmente um Estado de todas e todos as/os brasileiras/os. Os mandatos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma deixaram bem claro que o Brasil começaria a trilhar um novo caminho, onde os mais pobres, os negros, as mulheres e os demais segmentos historicamente alijados de participação nas esferas de poder teriam direito e voz. E isso, incomodou uma parcela importante da sociedade brasileira que não dá conta de dividir espaços, poder e direitos.

O Brasil ainda é um país que necessita da regulação legislativa para garantir direitos mínimos de preservação da vida, da participação e da inclusão de uma grande maioria da sua população. Ainda está longe de nós, o dia em que poderemos simplesmente ficar em casa a curtir bons livros e a vida despreocupadamente. Ainda precisamos acionar a justiça, denunciar a barbárie que é o racismo, o fascismo, o machismo e a homofobia. Nós povos de Terreiro então, nem pensar em poder apenas louvar, rezar e cantar para nossa ancestralidade. Nossas práticas ainda são norteadas pelo medo que sentimos da repressão, do racismo religioso e de um Deus apresentado pelos fascistas e racistas como sendo o único e superior a todas as outras formas de rezar, que devem, portanto serem eliminadas, suprimidas da sociedade.  A laicidade e o Estado de direito, que acreditamos ser o promotor das relações coletivas e sociais harmônicas ainda não é uma realidade entre nós. Para se discutir e compreender o Brasil de hoje, é impossível fazê-lo sem considerar o papel da religião e da religiosidade em nosso país e na construção do imaginário político. Temos segmentos religiosos, que são partidos políticos e que constituem parte importante do poder em nosso país, nos arrastando para a construção de um Estado teocrático de direita. É preciso avaliar o papel desses segmentos no golpe político de 2016, onde a votação do impeachment da Presidenta Dilma foi protagonizado por um Deus, que em nome da família, dos bons costumes, da fé e até mesmo de um torturador, desmontou todo um Estado, se quisermos tal qual a fênix tomar de volta os rumos políticos desse país sendo a alternativa viável e possível para a construção de novas utopias e novos sonhos. Para isso, é preciso investir em candidaturas comprometidas com um pensamento de esquerda, antiracista, feminista e esperançoso. Precisamos ter fé e acreditar, de que com nossos erros e acertos somos a alternativa para a democracia, a liberdade e a vida.


*Makota Celinha é Jornalista, empreendedora social da Rede Ashoka, Coordenadora Geral do CENARAB

Feminismo, as mulheres negras e suas lutas

Feminismo, as mulheres negras e suas lutas

Por Sandra Mariano* Salve o 25 de julho/Dia Nacional Teresa de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Afrolatina e Caribenha Nossos passos vêm de longe, e quando afirmamos isso, é porque relembramos quando as primeiras mulheres negras pisaram no solo brasileiro,...

ler mais
Educação com Igualdade Racial

Educação com Igualdade Racial

Por Marilandia Frazão* As ações de promoção da Igualdade racial na área da educação desenvolveram-se a partir do Protocolo de Intenções MEC/SEPPIR, firmado em 2003, com base nos seguintes eixos: Garantia do acesso e da permanência das crianças negras e indígenas na...

ler mais