Por mais mulheres unidas contra a violência

Por Andréa Cangussú*

É comum ouvirmos que, antigamente, não havia tanta violência contra a mulher como atualmente ou que os índices eram menores que os de hoje. Mas o que se sabe, com base em pesquisas e estatísticas, é que as mulheres eram silenciadas ou se calavam diante da violência sofrida. A própria legislação colocava a mulher numa condição inferior, desigual e sem as mesmas oportunidades que os homens. E a sociedade, machista e patriarcal, sequer questionava tantas restrições legais, tanta violência consentida, tanta desigualdade acatada. E esse quadro de dependência legal, econômica e, muitas vezes, psicológica, foi e é um dos fatores responsáveis pelos milhares de relacionamentos abusivos e violentos que culminam em números assustadores.

Segundo o Atlas da Violência, o Brasil registrou, em 2017, o assassinato de 4,9 mil mulheres, o maior número registrado desde 2007. Isso nos mostra que cerca de 13 mulheres foram assassinadas por dia ao longo do ano em todo o país. Esses números representam um aumento de 30,7% nos últimos 10 anos. Além disso, as mulheres negras são as que mais morrem no Brasil. Em 2017, 66% de todas as mulheres vítimas de assassinatos eram negras. O homicídio de mulheres negras também foi o que mais cresceu. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres brancas teve crescimento de 1,6% na última década, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9% no mesmo período (*).

O cenário, que já era terrível, se agravou ainda mais durante a pandemia do novo coronavírus. Com o isolamento social e o aumento do tempo em casa com a família, a agressividade de relacionamentos abusivos e violentos veio à tona. Diante disso, as denúncias feitas pelas próprias mulheres cresceram consideravelmente. No estado de São Paulo, dados apontam que o número de mulheres vítimas de violência aumentou em 44,9% e o de feminicídios cresceu 46,2% nesta quarentena. As estatísticas acendem o alerta vermelho e apontam a incapacidade do poder público de controlar uma situação, que há muitas décadas vêm assombrando a vida de milhares de brasileiras.

Essa tragédia diária reforça, cada vez mais, a necessidade de se ter mulheres na política à frente de projetos, leis e programas eficazes, não apenas de combate à essa violência cotidiana e secular, mas na quebra de paradigmas culturais que têm colocado as mulheres em segundo plano. Quem melhor do que aquelas que vivem na pele as situações de violência, tanto verbais quanto físicas, para ter consciência do que deve ser mudado e proposto? Não nos resta dúvidas de que o caminho seja o de mais mulheres unidas na política combatendo essa violência enraizada em nosso machismo estrutural de cada dia. Precisamos, com urgência, de mais mulheres em todas as esferas políticas para que essas tristes estatísticas passem a ser apenas uma marca sombria – porém sempre vergonhosa – do nosso passado.

*Dados compilados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados oficiais do Sistema de Informações Sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.


*Andréa Cangussú é Secretária de Mulheres do PT de Minas.

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